Vicente passou dias dentro de casa, o apartamento escuro não recebia a claridade do dia. As cortinas pesadas em todas as janelas não permitiam isso. Ele ficava andando pela casa, e ouvia sempre da secretária eletrônica as suas ligações. Há dias ninguém sabia dele, nem o via. Tudo que ele sabia do mundo, e isso se limitava a “-Você esta ai Vicente? Me retorna assim que receber essa ligação”. Mas ele não retornava nenhuma ligação.
Até que durante uma tarde qualquer no meio da semana ele ouviu a porta ser aberta. Ele abriu os olhos com dificuldade e reconheceu as pessoas que via. Uma era o porteiro, Sr.Carlos, o mesmo da aposta. A outra pessoa que ali estava não era exatamente uma surpresa, Rosana assim que o viu correu na direção de Vicente, que estava com o cabelo desarrumado, barba por fazer,e com a mesma roupa que usava no dia do acidente, depois ele explicou que lavava, e usava a mesma roupa que era a última que tinha tido o toque de Julia.
Rosana pegou uma bolsa de viagem de couro que estava no canto do quarto e junto várias peças de roupa de Vicente e entregou ao porteiro, o agradeceu e pediu que ele agora a ajudasse a levar Vicente. Vicente que há dias não se cuidava estava fraco e não conseguia entender o que estava acontecendo. Primeiro se viu dentro do elevador, depois no saguão do prédio onde morava, táxi, logo outro saguão que ele parecia conhecer, até que ele resolveu se pronunciar:
- Mas para onde estamos indo? Disse com uma voz cansada e distante
Rosana olhou para ele, deu um beijo no seu rosto e respondeu com carinho:
- Para casa amor!
Após isso só teve alguns flashs acordado.
Vicente tinha ficado vários dias sem comer, estava fraco, debilitado. Ele conseguia ver uma cama grande e confortável. Após outro apagão encontrou um copo com água e alguns comprimidos, outro apagão . Uma sopa. Depois de vários apagões levantou e saiu do quarto, passou por um corredor e pensou que com certeza aquele não era seu apartamento, entrou por uma porta que o levou a uma cozinha onde encontrou duas mulheres. Uma baixa corpulenta, rosto redondo, com aspecto cansado porém bondoso, cabelos curtos, crespos e levemente avermelhados, trajava um vestido de doméstica na cor cinza. Essa mesma mulher ao ver Vicente só disse:
- Senhora!
A outra mulher olhou para a empregada e perguntou:
- Sim Dinorah!
Dinorah só apontou para a porta . A senhora olhou na direção apontada pela mulher de vestido cinza e assim que avistou Vicente deu um largo sorriso e disse:
- Que bom que levantou, já estava ficando preocupada!
Vicente a encarou e respondeu:
- O que estou fazendo aqui Rosana?
Nos seus 1,65m, parda, olhos castanhos , cabelos levemente ondulados nos ombros, boca farta, quadril largo, e com um vestido roxo até a atura do joelho. Rosana gelou ao ouvir o tom de voz de Vicente, o largo sorriu sumiu.
Dinhorah na mesma hora largou o que estava fazendo e alegou ter afazeres na rua. Rosana só acentiu com a cabeça, assim que a empregada passou pelo batente da porta um leve sorriso reapareceu no rosto de Rosana que falou:
- Vi. Amor. Sente-se você precisa comer algo!
Vicente caminhou até a mesa bem posta com frutas no centro da cozinha. Rosana lhe trouxe um pires e uma xícara, onde lhe serviu café preto ainda sorrindo pra ele.
- O que estou fazendo aqui? Perguntou Vicente agora de forma mais amena.
Rosana carinhosamente respondeu:
- Está sendo cuidado, muitas pessoas desejam te ver.
- Não quero ver ninguém. - Respondeu de imediato Vicente.
- Bem Vi. - Rosana fez uma pequena pausa e continuou. - Acho que isso não será possível!
- Como não?
- Hummm. Você tem uma firma, e ela precisa de você.
- Não tenho firma alguma. - Respondeu de forma dura Vicente
- Bem Vi. - Agora Rosana parecia escolher bem as palavras. - Eu não sei se você sabe. - Fez uma breve pausa novamente e continuo. - Não sei se você sabe, mas, seu pai anunciou que esta deixando a firma.
- Ótimo para ele. - Tomou um gole do café e disse. - Melhor ainda para mim
Rosana o encarou por alguns segundos enquanto esperava ele dar mais um gole no seu café. Então tornou a falar:
- Então. - Mais uma pausa na fala olhando para Vicente. - Como eu estava dizendo. Seu pai está deixando a firma, e se você não voltar a firma será vendida, incorporada a Straw, e todos os funcionários serão despedidos.
Na mesma hora Vicente parou, colocou a xícara de volta no pires em cima da mesa. Vinha na sua cabeça imagem dele conversando com Augusto, o porteiro do prédio onde ficava a firma do seu pai, sobre como tinha sido o campeonato no fim de semana do filho de Augusto. Vicente olhou para Rosana e disse:
-Eu preciso falar com o meu pai!
Rosana abriu o largo sorriso novamente disse animada:
-Esse é o meu Vi.
E teve como resposta.
- Não me chame de Vi.
^PAR^